
O bem-estar dos trabalhadores nunca foi um tema tão central nas discussões sobre gestão e produtividade. Termos como burnout, estresse crônico e ansiedade deixaram de ser tabu para se tornarem pautas urgentes. Nesse cenário, identificar e gerenciar os fatores de riscos psicossociais — aspectos da organização do trabalho, do ambiente social e do conteúdo das tarefas que podem causar danos psicológicos ou físicos — é uma medida fundamental de prevenção e uma exigência para o cumprimento das legislações de saúde e segurança do trabalho.
Essa necessidade não é apenas teórica. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, em 2024 o Brasil registrou um recorde de quase 500 mil afastamentos do trabalho por transtornos mentais, como ansiedade e depressão. Esse número representa um aumento alarmante, sobrecarregando os sistemas de saúde, gerando custos diretos e indiretos para as empresas e representando um sofrimento real para milhares de trabalhadores.
Em resposta a este cenário, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) intensificou o foco no tema, que foi amplamente debatido nas reuniões da Comissão Tripartite Paritária Permanente (CTPP), culminando na atualização da NR-1 para incluir de forma explícita a obrigação no gerenciamento de fatores de risco psicossociais. Embora a aplicação de autuações específicas sobre o tema tenha um período de transição educativo até 2026, a fiscalização já foi reforçada, sinalizando tolerância zero para a negligência com a saúde mental.
É importante notar que essa nova exigência da NR-1 não surge isoladamente, mas sim se conecta e reforça diretrizes já estabelecidas pela NR-17 (Ergonomia). A NR-17 já previa a necessidade de uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET) que abrangesse os aspectos relacionados à organização do trabalho, como o ritmo, o conteúdo das tarefas, as pausas, as normas de produção e a própria estrutura de tempo. Esses são exatamente os pilares dos riscos psicossociais. Portanto, enquanto a NR-17 forneceu a base para a análise desses fatores, a atualização da NR-1 formaliza a obrigação de gerenciá-los de forma proativa e integrada ao Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) da empresa.
Apesar da crescente conscientização, a realidade em muitas organizações é outra. A gestão de riscos psicossociais ainda é frequentemente negligenciada ou tratada de forma superficial, vista mais como uma tarefa burocrática do que como um pilar estratégico para a saúde organizacional. Essa lacuna resulta em ambientes de trabalho tóxicos, aumento do absenteísmo e da rotatividade, queda na produtividade e, em última análise, em custos humanos e financeiros significativos.
Muitas empresas recorrem a questionários e pesquisas de clima, que geram dados quantitativos valiosos. No entanto, esses números, embora importantes, contam apenas parte da história. Eles mostram “o quê”, mas raramente explicam “o porquê”.
É aqui que entram as metodologias de avaliação qualitativa. Elas buscam profundidade, contexto e a narrativa por trás dos dados, permitindo uma compreensão mais rica e humana dos desafios enfrentados pelos trabalhadores.
A tentativa de medir o impacto psicossocial do trabalho não é nova. A partir da segunda metade do século XX, com o aumento do interesse sobre o estresse ocupacional, pesquisadores começaram a desenvolver modelos teóricos para explicar a relação entre o ambiente de trabalho e a saúde dos trabalhadores. Modelos pioneiros como o Demanda-Controle (Karasek, 1979) e o Desequilíbrio Esforço-Recompensa (Siegrist, 1996) foram revolucionários.
A partir dessas teorias, surgiram os questionários padronizados, que rapidamente se tornaram a principal ferramenta de avaliação. A sua capacidade de transformar percepções subjetivas em dados numéricos, permitindo comparações e análises estatísticas em larga escala, fez com que fossem amplamente adotados por empresas e acadêmicos. Essa abordagem quantitativa dominou o campo por décadas, fornecendo insights valiosos sobre a prevalência de certos fatores de risco. Contudo, com o tempo, ficou claro que os números, por si sós, eram insuficientes para capturar a complexidade das interações humanas e organizacionais, abrindo caminho para a valorização das metodologias qualitativas.

Antes de mergulharmos nas ferramentas, é crucial entender a diferença e a complementaridade entre as duas abordagens:
A melhor estratégia, na maioria dos casos, é a abordagem mista: usar dados quantitativos para identificar áreas críticas (hotspots) e, em seguida, aplicar métodos qualitativos para investigar a fundo as causas desses problemas.
Com certa frequência, o discurso sobre os riscos psicossociais no âmbito do trabalho tem girado em torno de dois elementos: a vulnerabilidade individual e as exposições extralaborais. Isso estabelece o contexto em que os profissionais de prevenção desenvolvem seu trabalho, colocando o foco de atenção e atuação mais sobre as pessoas do que sobre as organizações.
Não se nega a existência desse tipo de problema, mas sua abordagem no âmbito da prevenção de riscos ocupacionais se apresenta como enormemente complexa. Empregam-se enfoques mais próprios da clínica ou dos recursos humanos do que da saúde ocupacional, confundem-se causas com consequências, utilizam-se instrumentos que não avaliam as condições de trabalho ou não o fazem corretamente, atua-se sobre os comportamentos individuais e não sobre as condições organizacionais, tenta-se diminuir os sintomas, mas não os fatores de risco ocupacional.
Os limites de exposição profissional (LEP) que são empregados na higiene industrial são ferramentas de grande utilidade preventiva, mas também com limitações técnicas evidentes, conhecidas e assumidas pelos profissionais. Não constituem uma barreira definida de separação entre situações seguras e perigosas. Devido à amplitude de respostas individuais possíveis, são valores de referência que protegem a maioria da população trabalhadora, mas não a totalidade. São estabelecidos a partir dos conhecimentos disponíveis nesse momento. São revisados periodicamente em função das mudanças que ocorrem tanto nas condições de trabalho, como nos conhecimentos científicos ou no quadro legal.
Partindo desta realidade – os riscos ocupacionais, que são a nossa “matéria-prima” -, a abordagem preventiva baseia-se numa sequência de ações concretas: identificar o risco, avaliá-lo quando não for totalmente evitável, intervir tentando eliminar ou reduzir a exposição, fazer o acompanhamento avaliando a eficácia da intervenção, e reajustar o que for necessário. E tudo isto constitui um processo de “melhora contínua”, comum a qualquer tipo de risco, e inspirado nos princípios de ação preventiva enunciados no art. 15 da Lei de Prevenção.
Aplicar este esquema preventivo aos riscos psicossociais implica “normalizá-los”, tratá-los da mesma forma que os higiênicos ou os ergonômicos, despojando-os da visão terapêutica (tentamos prevenir riscos, não doenças). Também implica libertar os riscos psicossociais de uma certa carga de esoterismo, intencional ou não, que ainda persiste.
Com o objetivo de poder diagnosticar, medir e gerenciar no ambiente de trabalho chileno a presença e o estado desses fatores de risco, dentro do âmbito assinalado, a Superintendência de Seguridade Social adaptou e validou para a realidade trabalhista chilena, durante o ano de 2008, o questionário espanhol ISTAS21, que por sua vez era a tradução e adaptação do questionário de origem dinamarquesa Copenhagen Psychosocial Questionnaire em sua primeira versão (COPSOQ I). Desde esse ano, o questionário validado, chamado SUSESO/ISTAS21, teve ampla aplicação e foi estabelecido como instrumento de medida pelo Protocolo de Vigilância de Riscos Psicossociais no Trabalho do Ministério da Saúde no ano de 2012 e, novamente, em 2017.
O Protocolo de Vigilância de Riscos Psicossociais no Trabalho é uma regulamentação do Ministério da Saúde orientada a medir e gerenciar os fatores de risco que podem afetar a saúde mental dos trabalhadores e trabalhadoras. Seu objetivo principal é identificar a exposição a estes fatores e promover ações preventivas e de mitigação nos ambientes de trabalho, fomentando um ambiente de trabalho seguro e saudável (Chile, 2025).
Todas as empresas e instituições, tanto públicas como privadas, com mais de 10 trabalhadores/as formalmente constituídas, independentemente de seu setor ou ramo, devem aplicar este protocolo. No caso de instituições novas, a avaliação de riscos psicossociais deve ser realizada assim que o centro de trabalho tenha trabalhadores/as contratados/as por 6 meses ou mais (Chile, 2025).
No entanto, dada a grande experiência acumulada nestes anos, tanto na estrutura do próprio questionário, nas dimensões que mede e nos níveis de risco que apresenta, bem como na experiência prática de tê-lo aplicado e observar as intervenções que dele derivam, tornou-se razoável que o instrumento fosse substituído por outro que levasse em conta essa experiência, tanto de trabalhadores e trabalhadoras como de gestores e especialistas na área.
No Chile, as diretrizes expressam de forma direta e simples as obrigações das empresas, como:
A facilidade e a escalabilidade dos métodos quantitativos podem levar a uma armadilha perigosa: a aplicação de questionários de forma burocrática, sem um planejamento estratégico e um compromisso real com a mudança. Quando isso acontece, a própria ferramenta de diagnóstico pode se tornar parte do problema, gerando consequências negativas:
Para abordar essa variabilidade, é fundamental analisar tendências em vez de snapshots. Isso pode ser feito aplicando a mesma pesquisa em intervalos regulares (ex: anualmente) para observar padrões. Além disso, é crucial triangular os dados, cruzando os resultados do questionário com outros indicadores, como taxas de absenteísmo, dados do serviço de saúde ocupacional e, claro, com os insights profundos obtidos por meio de métodos qualitativos.
Portanto, a aplicação de uma metodologia quantitativa deve ser o primeiro passo de um processo bem estruturado, e não um fim em si mesma. O verdadeiro valor não está nos gráficos gerados, mas no diálogo e nas ações que eles provocam.
É importante reconhecer que os resultados da pesquisa, por si sós, podem apenas fornecer uma indicação do desempenho na gestão do estresse relacionado ao trabalho, e você precisará compartilhar e discutir os resultados da pesquisa com os trabalhadores, e explorar quaisquer questões levantadas com mais detalhe, por exemplo, usando grupos focais. A intenção é que todos os dados que você coletar possam ser usados para promover um sistema de melhoria contínua (HSE, ano).

A Visão do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)
Para orientar as empresas, o MTE publicou em 2025 o Guia de Informações sobre os Fatores de Riscos Psicossociais Relacionados ao Trabalho. O documento não prescreve uma única ferramenta, mas reforça a importância de uma abordagem multifacetada e participativa. Segundo o guia, a avaliação deve combinar diferentes estratégias, como:
O guia do MTE enfatiza que o foco da avaliação deve ser sempre nos fatores de risco presentes no ambiente e na organização do trabalho, e não na avaliação da saúde mental individual dos trabalhadores, o que seria uma abordagem clínica e não de prevenção ocupacional.
Conexão Global: A Norma ISO 45003
Além das diretrizes nacionais, as empresas que buscam excelência em saúde e segurança podem se basear na norma nacional ABNT NBR ISO 45003: Gestão da saúde e segurança psicológica no trabalho. Sendo a versão brasileira da primeira norma internacional sobre o tema (ISO 45003:2021), ela fornece orientações práticas sobre como gerenciar os riscos psicossociais dentro de um sistema de gestão de saúde e segurança ocupacional.
As ferramentas a seguir estão em plena consonância com as diretrizes do MTE e os princípios da ISO 45003:
1. Entrevistas Individuais Semi-estruturadas
Esta é uma das ferramentas mais poderosas. Consiste em uma conversa guiada por um roteiro de tópicos, mas com flexibilidade para aprofundar questões que surgem espontaneamente.
2. Grupos Focais
Os grupos focais reúnem um pequeno número de trabalhadores (geralmente de 6 a 10) para discutir um tema específico sob a moderação de um facilitador.
3. Observação Participante
Nesta metodologia, o avaliador se insere no ambiente de trabalho para observar as rotinas, interações e o fluxo de tarefas como eles realmente acontecem.
4. Análise Documental
Muitas informações valiosas já existem dentro da empresa. A análise documental envolve a revisão de materiais para identificar padrões e fontes de risco.
Para que a avaliação qualitativa seja eficaz e gere confiança, alguns princípios são inegociáveis:
Além da qualidade da participação, o outro elemento importante a se considerar são os agentes envolvidos. Os trabalhadores e/ou seus representantes, a direção e a estrutura da empresa são atores relevantes em qualquer programa de atuação sobre os riscos psicossociais, além dos próprios assessores técnicos em prevenção. É evidente que a alta direção deve estar convencida e implicada, e isso vai além de, por exemplo, divulgar um comunicado a todos os funcionários solicitando sua colaboração na aplicação de um questionário, ou receber informações pontuais sobre o andamento do processo até que chegue o momento de tomar decisões.
A sua participação ativa, direta ou através dos seus representantes, em todas e cada uma das fases da intervenção seria a forma ideal. O seu papel é decisivo, além disso, na medida em que as intervenções psicossociais que atuam na origem da exposição implicam mudanças que dificilmente poderiam ser lideradas apenas pela área de saúde ocupacional.
Como afirma a Agência Europeia, a direção, o pessoal e outros agentes representam frequentemente motivações e interesses distintos, e é importante dedicar esforços para encontrar um compromisso de interesses coincidentes ou paralelos, que deveriam constituir a base da cooperação. Poucas empresas apresentam o cenário “ideal” desde o início, mas essa base para a cooperação é um requisito necessário para que a intervenção se desenvolva da melhor maneira. Portanto, torna-se um assunto ao qual convém dedicar boa parte da energia e do esforço que uma intervenção psicossocial exige.
Os representantes dos trabalhadores trazem transparência ao processo e geram confiança, o que facilita o envolvimento da força de trabalho. Mas não se pode convidá-los a participar apenas quando é conveniente (por exemplo, quando se está preparando a aplicação de um questionário), para depois excluí-los de outras fases do processo (por exemplo, a discussão sobre prioridades de atuação ou o desenho de medidas). Esse tipo de manobras são inequivocamente detectadas e interpretadas como um sinal de relutância, tornando-se assim um elemento nada favorável para o sucesso de uma intervenção.
Os trabalhadores são os protagonistas da própria ação preventiva. Inúmeros autores e entidades identificam como fator de sucesso reconhecer os trabalhadores como especialistas, uma vez que eles fornecem um conhecimento insubstituível sobre a origem da exposição aos riscos e sobre a viabilidade das possíveis ações preventivas para corrigi-los. Há unanimidade em que devem estar ativamente envolvidos no processo de avaliação-intervenção psicossocial, o que inclui também a definição e a concretização das medidas preventivas a serem aplicadas. A sua participação formal deve ir além de responder a um questionário, e costumam ser a fonte essencial de propostas preventivas concretas (INSHT, 2012).
Em qualquer intervenção psicossocial, os técnicos de prevenção, sejam internos ou externos à empresa, são sempre um interlocutor presente. A sua função está definida por lei, mas, além disso, convém destacar algumas recomendações que aparecem na literatura. Os técnicos de prevenção não são os protagonistas, nem estão na posse das soluções. São assessores neutros que contam com um conhecimento técnico que devem colocar à disposição dos atores principais dentro da organização: direção e trabalhadores. Devem facilitar o diálogo entre empresa e trabalhadores para que construam as soluções e cheguem a acordos sobre a forma de aplicá-las. Como fazem isso?: fornecendo dados, propondo dinâmicas de trabalho, motivando, oferecendo ferramentas adequadas, gerando um clima de confiança.
Obviamente, a sua posição na organização, a sua experiência, a confiança que tenham gerado com outras atuações preventivas prévias, o conhecimento dos diversos interlocutores na empresa, etc., condicionam o exercício do seu papel. Mas não devem cair no erro, por vezes induzido por outros agentes, de assumir unilateralmente a detecção e análise dos problemas e a busca e aplicação de soluções. Na intervenção psicossocial, a análise e a construção coletiva dos problemas e das soluções são fatores de sucesso inequívocos. Os remédios impostos costumam ser pouco eficazes, por mais que venham de especialistas.

Esta fase justifica-se pela constatação de que os problemas psicossociais são frequentemente negados pelas empresas. Trata-se, portanto, de recolher os primeiros indicadores. No final desta etapa, deve ficar clara a decisão formal de continuar com a ação preventiva, ou seja, o compromisso da Direção de atuar sobre os fatores de risco que forem detectados.
Devem ser recolhidos os indicadores que já existem na organização e que podem ser sinais da presença de estresse e/ou outros transtornos derivados de más condições psicossociais. As queixas reiteradas dos trabalhadores constituem frequentemente uma primeira fonte de informação útil para o pré-diagnóstico.
Um indicador isolado pode não ter interesse, mas a presença de diversos indicadores leva à suspeita de um problema e, geralmente, permite convencer a Direção e a CIPA da necessidade de iniciar um processo de ação preventiva. Reunir todos esses sinais permite uma primeira análise, seja observando a evolução temporal dos indicadores, ou estudando as diferenças entre departamentos, unidades, grupos ocupacionais ou, inclusive, comparando com dados de referência externos à empresa (setoriais, nacionais, etc.). Esses indicadores deverão ser acompanhados ao longo de todo o procedimento de atuação preventiva para avaliar os benefícios da ação.
Na medida do possível, este pré-diagnóstico deveria ser realizado internamente na empresa, com pessoal próprio designado, seja pela CIPA, ou de comum acordo entre a Direção e os representantes dos trabalhadores. Se isso não for possível, seria necessário contar com assessores externos.
Se a primeira etapa evidenciou a existência de uma problemática psicossocial, e desde que a Direção decida iniciar um procedimento de prevenção, recomenda-se a criação de um grupo de trabalho específico. A sua composição será variável em função do tamanho e da estrutura da empresa, mas deve sempre representar o conjunto dos trabalhadores e incluir os seus representantes. No grupo devem participar, pelo menos, um membro da Direção e agentes de prevenção da empresa (membros da CIPA, pessoal especializado em saúde ocupacional etc.).
Além disso, o grupo deve incorporar trabalhadores voluntários que representem os diferentes setores da empresa, que sejam legitimados pelos seus colegas (que gozem do seu respeito, credibilidade e confiança, sendo ou não “representantes dos trabalhadores” no sentido formal do termo). Adicionalmente, estes trabalhadores devem possuir alguns requisitos básicos: ter competências de comunicação, bom conhecimento da empresa e saber trabalhar em equipe.
O grupo de trabalho não toma decisões, mas informa e aconselha a Direção. A sua missão é informar os trabalhadores, orientar as intervenções de agentes externos, quando existirem, e assegurar o acompanhamento das ações e indicadores. O grupo poderá ser dissolvido uma vez que as ações preventivas concretas estejam implementadas, deixando o acompanhamento propriamente dito para a CIPA, ou assumir também essa última fase, se for considerado conveniente.
Por vezes, a composição do grupo que se revela mais adequada requer uma fase de formação e/ou treinamento do mesmo para que se aproprie das ferramentas e métodos de análise a utilizar.
O Modelo Internacional: Correios da Dinamarca
Para ilustrar o poder de uma abordagem bem-estruturada, podemos olhar para o caso dos Correios da Dinamarca (Post Danmark), amplamente documentado por pesquisadores como Tage Kristensen. Confrontada com custos crescentes e perdas de produtividade decorrentes de altos níveis de absenteísmo por doença, estresse e problemas musculoesqueléticos, a liderança da empresa tomou a decisão estratégica de agir. No início da década de 1990, mais especificamente a partir de 1991, o cenário tornou-se uma prioridade de negócio, impulsionando a necessidade de uma intervenção profunda.
Um Exemplo Brasileiro: Setor de Energia Elétrica
No Brasil, um estudo de caso publicado por Carlotto e Schmidt (2004) com trabalhadores de uma empresa do setor elétrico também demonstrou a eficácia de uma abordagem mista e participativa. A iniciativa surgiu após a gestão observar um aumento nos índices de absenteísmo e relatos de incidentes de segurança, que acenderam um alerta sobre a saúde mental das equipes. A empresa, então, identificou altos níveis de estresse, um fator de risco crítico para a segurança e a saúde em um setor de alta periculosidade.
Caso Recente: A Transformação numa Empresa de Tecnologia (2023-2024)
Um caso mais recente, compilado a partir de relatórios e estudos de caso de consultorias especializadas em saúde corporativa (Fonte: Análises de tendências de Gallup, McKinsey Health Institute e Mercer, 2023-2024), ilustra a aplicação desses princípios no acelerado setor de tecnologia. Uma empresa de software em rápido crescimento começou a enfrentar uma alta taxa de rotatividade voluntária (turnover), especialmente entre seus engenheiros e desenvolvedores seniores. O custo para substituir esses talentos e a perda de conhecimento estavam impactando diretamente a capacidade de inovação da empresa.
Investir tempo e recursos para entender a fundo os riscos psicossociais vai além de ser uma tendência de RH. É um ato estratégico de prevenção, essencial para o cumprimento da legislação trabalhista e prevencial, que protege o ativo mais valioso de qualquer organização: as pessoas. Países como Suécia, França, Bélgica, Holanda e Dinamarca são exemplos onde a legislação é ainda mais rigorosa, exigindo que as empresas não apenas realizem as avaliações, mas também submetam os resultados e planos de ação para a fiscalização de inspetorias do trabalho.
Fora da Europa, países como a Austrália também avançam com códigos de prática que responsabilizam os empregadores. Isso sinaliza uma tendência global de maior responsabilização. Ao ir além dos números, as empresas não apenas evitam sanções e passivos trabalhistas, mas também criam ambientes de trabalho mais seguros, saudáveis e, consequentemente, mais inovadores e produtivos.
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Referências
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